Fazemos aqui uma homenagem a este grande escritor que se dedica, principalmente, ao público infanto-juvenil, nosso principal alvo também enquanto Coordenação de Sala de Leitura. Assim, além das atividades com textos sobre futebol da postagem anterior, apresentamos outros textos com outras temáticas deste querido escritor Júlio Emílio Braz. Abaixo colocamos um link de um mural virtual com postagens de alguns professores da Rede Municipal de Itaboraí.
Primeira Sugestão: CONFLITOS DE LUCAS
texto retirado do livro "Os papeis de Lucas: pequeno inventário de um adolescente comum" Ediouro,2000.p.51
Introduzindo a temática
Você já parou para pensar sobre como a propaganda influencia nossas vidas?
Você recebe mesada? Se recebe, o que você compra com este dinheiro?
O QUE É CONSUMISMO?
O consumismo é a ação de comprar excessivamente e sem necessidade, sendo motivada por impulso ou desejo de comprar. Esse é considerado um comportamento destrutivo que impacta em diversos aspectos da vida cotidiana. O consumismo é diferente do consumo, que é caracterizado pela ação de realizar compras necessárias – como água e alimentação. A onda de consumismo é muito presente em sociedades modernas capitalistas e tem se mostrado um reflexo da globalização e da mídia, como veremos adiante.
O QUE CAUSA O CONSUMISMO?
O consumismo não tem uma causa específica. Esse comportamento é motivado por uma série de fatores que envolvem desde a mídia até as táticas de propaganda utilizadas por organizações empresariais.
Texto: Os conflitos de Lucas
Júlio Emílio Braz
Dinheiro meu, problema seu. A frase se encaixa como uma luva no meu relacionamento com a mesada que papai me dá.
Não dá para dizer que ele seja injusto. Tanto eu quanto Serginho, meu irmão, recebemos exatamente a mesma quantia e na mesma data. O meu dinheiro acaba bem antes e quase sempre peço emprestado a ele. Serginho empresta, mas cobra juros e ainda faz questão que meu pai saiba. Conclusão: acabo endividado e levando bronca.
[...]
Gosto de Gastar, qual o problema?
Sou uma vítima da mídia, presa fácil dessa sociedade consumista, qualquer marketing mais esperto me leva no bico. O mundo enche meus olhos com coisas demais e eu gosto de ter, preciso ter. Todo mundo tem, quer ter. Afinal, são tantos apelos da mídia martelando nossa cabeça, criando necessidades...
Será que é a fase?
Há coisas que eu compro por comprar e outras, porque eu acho que vão ficar legais ou têm tudo a ver comigo. Muitas vezes nem preciso.
É crime querer gastar?
Já posso ouvir meu pai respondendo:
“Ótimo! Então comece a gastar o seu!”
Concordo. Tudo a ver. Falo em arranjar um emprego. Briga novamente.
“Primeiro a escola!”
Ele repete a mesma frase um montão de vezes, um disco quebrado, enquanto acrescenta mais alguns trocados na mesada. Um cala-boca financeiro.
Estou ficando de saco cheio de mesada. Quero ganhar o meu. Dá para colocar as duas coisas no mesmo saco: trabalho e escola. Viver dependendo de mesada é como viver à mercê das broncas de meu pai e do agiota juvenil do meu irmão.
Compreendendo o texto
No início do diário, Lucas afirma que a mesada dele acaba antes da de Serginho. Ao longo do texto, ele deixa claro por que isso ocorre? Justifique apontando as diferenças entre o comportamento de Lucas e o de seu irmão.
Diante da falta de dinheiro, Lucas atribui a culpa a quem? Por quê?
Para fechar o relato dessa página de diário, Lucas expõe sua opinião sobre mesada e consumo. O que ele conclui?
Interpretação e inferências
O que você acha da postura de Lucas diante de seus gastos e sua relação com o consumo? Explique.
Nas faculdades de propaganda e marketing é ensinado ao publicitário (profissão de que cria as propagandas) que ele vende "felicidade". E não o produto. Assim o que vemos em um propaganda de cerveja, por exemplo, não é a cerveja, mas a alegria e felicidade causada ao bebê-la.O que você pensa sobre isto?
Produção:
Criação de um cartaz contra o consumismo.
na realidade brasileira, uma parcela muito pequena da população infanto-juvenil ganha mesada.Quais conflitos você acha que são mais comuns a estes adolescentes? Escreva este conflito em forma diário (um dia).
Sugestão 2: Onde foram parar as boas pessoas? Crônica de Júlio Emílio Braz subtítulo do livro "Crônicas urbanas"
Professor, esta crônica trata de um assunto bem sensível: a desistência da vida.Seu título, na verdade, é a pergunta que fundamenta o texto:onde foram para as pessoas que têm empatia?Que se solidarizam com a dor alheia?
Introduzindo a temática
Hoje em dia encontramos solidariedade, empatia nas pessoas?
As notícias trazem violências de todo o tipo. De que modo elas te afetam?
A opinião alheia te incomoda muito?Você deixaria fazer alguma coisa, ou faria algo só para agradar alguém?
Professor, é importante falar sobre o gênero literário caso ainda não tenha trabalhado o gênero crônica, vale explicar, caso já tenha trabalhado, relembrar as características é sempre bom) e autor . Lembrando que em postagens anteriores você pode encontrar estas duas informações.
Texto: Cara, onde foram parar as boas pessoas?
Parece um sonho. Não, sonho não. Definitivamente estava longe de ser um sonho. Talvez até fosse um sonho, mas um sonho ruim. Certamente um pesadelo.
Mais uma vez, ela olhou para baixo e esperou encontrar apoio, compreensão, compaixão. Uma palavra por menor que fosse, mas que lhe devolvesse um pouco de autoestima alguma vontade de continuar acreditando na vida e nas pessoas.
A solidão não alcançaria se tivesse certeza de que haveria um ombro amigo a seu lado, para ampará-la sempre e em qualquer lugar. Realmente com alguém ao seu lado não pensaria tão frequentemente em desistir, em abandonar a luta.
Procurou ao redor. Dezenas de rostos continuavam se multiplicando, achegando-se, irmanados por aquela ansiedade doentia que antecede as tragédias do cotidiano. Devia estar entre eles, pensou. Podia estar entre eles aquele que lhe apresentaria motivos e lhe daria um pretexto qualquer para tentar mais uma vez, para não desistir da vida, aquele que lhe traria um remédio contra a solidão.
Esperou, nervosa e angustiada, com os olhos enchendo se de lágrimas. Muita dor e muito desespero. Chegou a pensar em fazer um apelo, começou a materializar um sorriso capaz de tocar o coração e a consciência de uma entre tantas pessoas que lhe guardavam não se sabia o quê.
Talvez, se alguém a visse sorrir ou falar poderia se deixar levar por sua dor e tentaria convencê-la de dar mais uma chance à vida.
Alguém poderia lhe dizer como conseguir uma nova ocupação; poderia falar de amor e fazê-la esquecer das decepções passadas; poderia lhe ensinar a ter garra e determinação e ela, depois de ouvir e perceber qual que alguém se preocupava genuinamente com o seu futuro, encontraria um novo alento para a sua própria existência.
Tudo mudaria assim que alguém dissesse alguma coisa.
De pé, no peitoril da janela, esperou durante horas por uma palavra animadora na esperança de alguém na multidão, no meio da rua, como uma simples palavra, lhe infundisse novo ânimo, apresentasse um caminho mais viável do que o suicídio. Esperou e esperou.
Ela e a multidão esperaram muito tempo. Com os primeiros pingos de chuva, percebeu um burburinho espalhar-se pelas pessoas amontoadas na calçada.
_ Pula logo, droga! Está chovendo! -Gritou alguém cheio de impaciência.
Cara, onde foram parar as boas pessoas? questionou, numa esperança fútil, numa crença exagerada, de alguém se pronunciar.
Sua pergunta ficou perdida na confusão. Na verdade, ninguém ouviu. Decepcionada, vendo que nada à aprendi a vida, pulou.
Atenção: O livro "Crõnias urbanas, onde foram paras as boas pessoas" é composto por 25 crônicas de Júlui Emílio Braz divididas em três temas: desafetos, Desenganos e Desemcontros. É um retrato da sociedade com toda sua dureza, preconceito e injustiças.Muito pertinente trazer estas discussões para sala de aula.
Compreendendo o texto
Quem está narrando o texto?
Onde está pessoa está?
Por que as pessoas a estão observando?
O que acontece quando começou a chover?Como as pessoas reagiram?
Interpretação e inferências
A pergunta da narradora foi "cara, onde foram parar as boas pessoas?". Pensando na situação descrita pela crônica, como você responderia esta pergunta?
A pandemia, a sociedade acaba afetando muito as nossas emoções. Se você pudesse dizer algo a narradora, o que diria?
Acabamos nos acostumamos com situações que não deveríamos, veja este texto de Mariana Colasanti, "Eu sei, mas não deveria"
Também é possivel a relação com a música "Construção" de Chico Buarque de Holanda.focando na ironia do verso final"morreu na contramão atrapalhando o trânsito". Quanto vale a vida humana?
Produção:
Escrever uma carta para a personagem da crônica na qual sejam valorizadas as pequenas coisas da vida.
Texto O olhar azul
De Júlio Emílio Braz ilustrações Rogério Borges. O livro faz parte da coleção "Deu no jornal".A editora FTD desafiou seis escritores, dentre eles, o Júlio, para transformar uma notícia comum, que saiu nos jornais, e, a partir dela criar livremente uma história. Júlio Emílio Braz usou um texto poético para retratar o cotidiano de pessoas que passam a vida em instituições hospitalares. Em "O olhar de azul", a vida de uma mulher que respira com auxílio de um respirador mecânico e que move apenas os músculos do rosto e sua história de um encontro amoroso. Apresentamos aqui um capítulo, mas indicamos a leitura do livro pela sensibilidade como aborda este assunto.
Introduzindo a temática
Você já ouviu falar em pintores com a boca?
Associação de pintores com a boca e os pés.
A APBP começou em 1956 quando Erich Stegmann, um artista que pintava com a boca, reuniu um pequeno grupo de artistas com deficiência física de 8 países europeus. Seu objetivo era ganhar o seu próprio sustento através de seus esforços artísticos.
Atualmente há 55 artistas no Brasil, muitos dão palestras oferecendo uma melhor compreensão do do trabalho que está sendo feito pela Associação.
Atualmente há 56 artistas no Brasil, muitos dão palestras e demonstrações de pintura para escolas, empresas e outros grupos interessados, oferecendo uma melhor compreensão do trabalho que está sendo feito pela Associação e as possibilidades disponíveis como oportunidade para as pessoas com deficiência. A Associação dos Pintores com a Boca e os Pés é uma organização internacional controlada pelos seus artistas membros, cujo propósito é: – Fazer contato com artistas que perderam o uso de suas mãos, seja por nascença, acidente ou doença, e agora pintam com a boca e os pés. – Fazer contato com pessoas com deficiência que gostariam de aprender a pintar e ganhar seu próprio sustento através dessa capacidade. – Oferecer assistência moral e informativa para pessoas com deficiência que estejam interessadas em tornar-se estudantes, oferecer aos alunos apoio financeiro, prático e criativo para que sejam artistas completamente desenvolvidos e membros da Associação. – Estabelecer editoras. – Atender os interesses dos artistas, facilitando a venda de seu trabalho, principalmente na forma de reproduções como cartões, calendários, etc. – Publicar material que comunique e apoie o propósito da organização. – Auxiliar os artistas com deficiência na obtenção de autoestima, realização criativa e segurança financeira
Você já pensou como vivem as pessoas que têm alguma deficiência física? Você convive com alguém assim?
Você tem amigos criados e mantidos apenas na internet e redes sociais.
Elementos paratextuais do livro
Observe com atenção a primeira capa do livro. Quais elementos podemos identificar? Como podemos relacionar como título da coleção "Deu no jornal" e o título "Olhar de azul"?
Sabendo um pouco sobre a história, de quem você acha que seria o olhar do título "O olhar de azul"
Meu mundinho
No quarto o silêncio é hospitalar. Estou só. Volta e meia entra alguém. A enfermeira que me acompanha por mais de 10 anos. De vez em quanto brinco com ela e digo que estamos ficando velhas, os cabelos brancos que parecem ao longo da testa brilhante e nos cantos dos ternos olhos cinzentos agravando a imagem materna. Tem minha mãe, a obstinada do quarto 25, como eu a chamo, que traz me que me traz o mundo lá de fora, dia após dia, com a obstinação dos loucos.
você sabe qual é a capital do Azerbaijão?
Escreve aí rápido a teoria da relatividade.
Parlez-vous français?
Sabe a escalação da nova seleção de vôlei do Brasil?
Qual a cor do cavalo branco de Napoleão?
Eu sei. Minha mãe fez questão que eu aprendesse. Quando todos os outros foram me abandonando um por um, inclusive meu pai (abandonando a também) ela ficou, as pilhas de livros crescendo na cabeceira da cama, a vontade crescendo no coração com a mesma paciência com que ela tece seus longos inexplicáveis casacos de tricô ao meu lado.
Culpa?
Nenhuma. Minha mãe não é esse tipo de mulher. Nem chorar, coisa que ela costumava fazer no início, ela faz mais. Luta. Lutar é mais coisa de minha mãe. Somos muito parecidas.
Aliás, não há culpa alguma. Foi a doença. Não lembro de nada. Eu tinha apenas um ano e 9 meses quando aconteceu. O nome feio. O diagnóstico implacável. Eu num quarto de hospital vivendo, crescendo, temendo vegetar, mas finalmente crescendo.
Nome feio. Nome comprido-poliomielite-, que esconde outro mais compreensível, mas mesmo assim nem um pouco encorajador. Paralisia infantil. Estou aqui por causa dela, vítima da forma mais aguda. Estou conectado a este quarto como um computador velho à mercê de softwares antigos, incapaz de evoluir e, portanto, cada vez mais inútil. Não ando, pois minha medula espinhal há anos está paralisada. Apenas os músculos do rosto me permitem expressar a densidade de meus sentimentos ou se apresentam e me apresentam a todos que entram no meu quarto como uma coisa viva. Aliás, vale ressaltar, bem viva.
É, porque eu me recuso a ter pena de mim mesma e fuzilo qualquer um com meus olhos- e meus olhos são armas terríveis, pode crer- quando tentam sentir pena de mim.
Por quê?
Tem um cérebro. Nossa, ele é intenso demais para eu me acreditar morta ou pelo menos digna de pena .Tudo bem que eu não posso me dar ao luxo de ficar nem um segundo longe dos meus respeitadores mecânicos- os músculos da caixa torácica são inúteis quanto aos guarda- costas da família Kennedy e eu preciso dos mais das maquininhas para bombear ar para os meus os pulmões-, mas se sou livre para navegar por todos os oceanos intermináveis do ciberespaço e coleciono amigos na internet como quem junta as figurinhas. Já cheguei a namorar por meses - virtualmente, é claro.
Será que existe alguém que se envolveria com algo tão precário como eu?
A pergunta dói. Machuca. Eu mesmo a repito há anos. Não, sem ressentimentos, sem lembranças tolas, sem crenças bobas. Eu nunca soube o que é ser outra coisa, nunca experimentei algo diferente.
Meu olhar. Sabe, eu o detesto. Passar desse tempão na cama, sem mover um músculo sequer, me deu um olhar penetrante. Raios X são pinto para mim. E ele é cruel. Penetra fundo nas pessoas que cruzam aquela porta. Não seria exagero dizer que não que sei o que cada um pensa assim que ponho os temíveis olhinhos verdes nas figuras que vão e vêm.
Gente feia. Gente má. Gente que me olha como nada. Gente que se sente aliviada por não ter o mesmo destino da minha mãe. Gente que faz o sinal-da-Cruz e dá graças a Deus por não ter um filho como eu. Gente que cochicha para outros que seria melhor eu morrer para a minha mãe finalmente voltar à vida. Gente que faz piadinha. Gente que não diz, mas pensa. Gente que pensa e diz.
Por essa e por outras, prefiro ficar só. Prefiro ficar com meus amigos da internet, o anonimato dos chats ou a ausência de olhares penalizados, apesar de eu nunca esconder o que eu sou para os meus amigos do Ciberespaço. Quando não estou lá, pinto com a boca. É com a boca mesmo.
Não sou feliz nem infeliz. Apenas sou. Vivo pelo que sou. Vivo simplesmente.
Compreensão o texto
Quem narra a história?
Onde a narradora está? Por quê ela está ali?
Quais os únicos movimentos que tem?
Por que ela chama a mãe de "a obstinada do quarto 25"?
Interpretação e inferências
Olhos de raio X que a narradora diz ter, observa atenta as pessoas que aparecem no seu quarto. E você, tem observação atenta das pessoas?
Que tipo de comportamento alheio mais te incomoda?
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